Lar Educação ‘Ocupações uberizadas’ dão às pessoas ilusão de autonomia – 30/08/2025 – Ilustríssima
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‘Ocupações uberizadas’ dão às pessoas ilusão de autonomia – 30/08/2025 – Ilustríssima

[RESUMO] A luta pela sobrevivência e a falta de uma educação que estimule o pensamento crítico prendem grande parte da humanidade em uma rotina de reatividade e ilusão de autonomia, especialmente nas ocupações “uberizadas”. Essa liberdade aparente mascara uma precarização que desumaniza o trabalhador, enquanto a verdadeira liberdade nasce do autoconhecimento e da autoaceitação. Despertar a consciência reflexiva é o caminho para a liberdade genuína, superando polarizações e fanatismos (religiosos e políticos) que limitam nossa compreensão do mundo.

A consciência reativa é uma propriedade fundamental da vida, presente desde os vírus até as estruturas unicelulares, como as amebas, e se manifesta nos seres humanos no início da vida. Nessa perspectiva, a membrana citoplasmática parece ser o local onde essa “consciência” surge em cada célula, com a capacidade de discriminação, seleção e atuação unilateral. Essa consciência reativa é a base de toda expressão de vida, permitindo que os organismos respondam ao ambiente e se mantenham vivos.

No entanto, nos seres humanos, existe a possibilidade de despertar a consciência reflexiva, uma capacidade que nos permite sustentar e conviver com a dúvida, simbolizando e ressignificando as intercorrências existenciais. Com essa consciência reflexiva podemos questionar, refletir e buscar significado e sentido em nossas experiências, que são únicas, particulares e subjetivas, abrindo caminho para uma compreensão mais profunda de nós mesmos e do mundo ao redor.

A consciência reflexiva representa um salto evolutivo significativo, permitindo que os seres humanos transcendam a mera reação e atuem com intencionalidade e propósito, considerando a ética das consequências.

É por meio dessa consciência reflexiva que podemos explorar nossa própria natureza, questionar crenças e valores, buscar um sentido mais profundo para a vida. Contudo, a realidade de nossos tempos nos mostra que nem todos alcançam essa plenitude.

Para uma vasta parcela da humanidade, a luta pela biosobrevivência –a dura realidade de ter que vender o almoço para comprar a janta– e a privação de uma educação que estimule o pensamento crítico reflexivo e o autoconhecimento mantêm o padrão dominante no que podemos chamar de monoteísmo da consciência.

Presos a essa unilateralidade de pensamento, limitamos nossa capacidade de reflexão e questionamento, agindo de forma impulsiva e reativa. É nesse cenário que floresce, de forma sedutora, a ilusão da autonomia que se manifesta nas chamadas ocupações “uberizadas”.

Milhões de indivíduos, por falta da consciência crítica e reflexiva, atuam como verdadeiros autômatos, iludidos de que são livres e “empreendedores” por escolherem quando e quanto “trabalham”. Essa suposta flexibilidade disfarça uma realidade de precarização extrema e, em muitos casos, de escravidão velada.

A dignidade é diluída em algoritmos, e a responsabilidade social é transferida para o indivíduo. Eles se tornam meras extensões de sistemas, reagindo a demandas sem tempo ou espaço para questionar o valor de seu próprio labor ou o propósito de sua existência.

A verdadeira autonomia, no entanto, não é um privilégio concedido por plataformas digitais, nem uma liberdade ilusória de apertar botões para uma tarefa ou outra. Ela é conquistada, edificada a partir de dentro. A verdadeira autonomia nasce do autoconhecimento legítimo, da coragem de olhar para dentro e acolher quem realmente somos, com nossas luzes e sombras, nossos defeitos, nossos complexos, nossas verdades incômodas.

É a partir dessa autoaceitação profunda –uma autoestima pelo que somos de verdade– que a consciência reflexiva floresce em sua plenitude, permitindo-nos transcender o reativo e o meramente funcional.

É nesse crucial despertar da consciência reflexiva que reside nossa única esperança de liberdade. Sem ele, permaneceremos aprisionados na polarização, incapazes de sustentar a dúvida, o que nos leva a um apego fanático a crenças.

Observamos essa armadilha nas mais variadas manifestações. No fanatismo religioso com a exploração monetária da fé, em que a busca por sentido é cooptada por interesses escusos; na ilusão de que o Estado, que historicamente age em prol das minorias dominantes, poderá cuidar de nossos anseios mais profundos, delegando a ele nossa responsabilidade cívica e existencial; na desesperada busca por caminhos mágicos, seja através de drogas lícitas ou ilícitas, de mentiras convenientes, ou de promessas de cursos ou curas milagrosas.

Todas essas fugas da reflexão e do encontro com o eu interior pavimentam o caminho para um cenário assustador. Uma população de robôs, refém de ilusões e com a consciência embotada pela biosobrevivência, torna-se um terreno fértil para o surgimento de lideranças tirânicas e fascistas. Elas se alimentam da polarização, da fé cega e da promessa de soluções fáceis para problemas complexos.

Somente quando indivíduos e, por consequência, a coletividade, abraçarem a coragem da dúvida e a profundidade do autoconhecimento, seremos capazes de romper com essas correntes invisíveis da modernidade.

É um convite urgente à pausa, à introspecção e à ação consciente, para que deixemos de ser meras peças em uma engrenagem e nos tornemos, finalmente, arquitetos de nosso próprio destino e do destino coletivo, construindo um mundo verdadeiramente mais igual, amoroso e sustentável.

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