Em uma simples busca por coletes para coluna em sites de buscas ou lojas virtuais é possível encontrar diversos produtos que prometem melhorar a postura humana. Mas a promessa não é muito fundamentada —e, na realidade, pode até resultar em malefícios.
Definir se uma postura é adequada ou não envolve diferentes fatores. Para Luciano Miller, ortopedista do Einstein Hospital Israelita, o importante é entender que uma postura inadequada é relacionada “a uma perda funcional importante por parte do paciente”. Por exemplo, no caso de alguém que sente dor ou que não consegue se manter em uma mesma posição por um período de tempo. Esse cenário é um indicativo de problema na postura.
Em casos assim, o uso de coletes posturais pode trazer alguns benefícios. Mas isso depende. Um primeiro fator que precisa ser levado em consideração é a função desejada do equipamento. Diretor da Associação dos Fisioterapeutas do Brasil (AFB), Leonardo Brito explica que alguns coletes ajudam a dar suporte ou estabilizar a coluna. Esses equipamentos podem ser recomendados após uma fratura na coluna, mas normalmente só por um curto período de tempo.
Outros coletes têm a função de controlar deformidades. Brito cita o exemplo da escoliose. Nessas situações, o equipamento pode ser útil para evitar que a condição evolua.
Outro caso mencionado por Brito são os coletes de feedback proprioceptivos. O objetivo desses equipamentos é prover lembretes, por meio de faixas e elásticos, de posições não ideais da coluna. “Ele sinaliza para o indivíduo quando ele se encontra em má postura, por exemplo, ao projetar ombros para frente ou para trás”, explica o fisioterapeuta.
É esse o tipo de colete que normalmente é encontrado em lojas com promessas milagrosas de correção postural. Mas um dos problemas é que faltam dados robustos das vantagens de tais equipamentos.
“O mercado claramente promove o produto como correção ‘independente’. Contudo, a evidência mostra que muitos dispositivos agem sobretudo como ajuda temporária ou lembrete”, afirma Miller sobre os coletes.
Além de faltar evidências sobre a eficácia desses equipamentos, eles também podem levar a malefícios na postura. “O problema de ser usado sem indicação e acompanhamento por um longo período é que [os coletes] podem gerar alterações nas tensões musculares, tornando regiões mais tensas ou mais instáveis. Isso acaba causando dor nos pacientes”, explica Brito.
O fisioterapeuta ainda menciona que usuários de tais coletes podem se tornar dependentes desses equipamentos. Fraqueza muscular é outro desfecho possível.
Miller também chama atenção para a dificuldade de escolher o exemplar adequado de forma independente. “O uso do colete sem a supervisão médica aumenta a suscetibilidade ao erro quanto a qual modelo usar e como usar […], podendo evoluir com lesões de pele e irritações secundárias ao mal uso da órtese”, afirma.
Quando usar coletes para postura?
Mesmo com as contraindicações, os coletes de feedback proprioceptivos podem ser úteis a depender da situação. Brito explica que, em sessões de fisioterapia, esses coletes podem ser vantajosos para reabilitação de movimentos comprometidos. Mas isso ocorre na clínica com a supervisão de um fisioterapeuta treinado, e não em casa ou durante o dia a dia de alguém.
“A orientação de um fisioterapeuta especializado é sempre recomendado, e o uso desses coletes não deve ser feito de forma aleatória”, afirma Brito.
Mas, mesmo assim, os efeitos do produto podem ser limitados. Miller explica que vantagens podem ser observadas a curto prazo, mas faltam pesquisas robustas sobre o tema. O ortopedista ressalta que atividades físicas, especialmente aquelas com foco na reeducação e fortalecimento postural, e correção na ergonomia em ambientes de trabalho, como usar cadeiras com apoio lombar adequado, são recomendações mais confiáveis.
















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