A segunda-feira (4) fez jus ao adágio popular que rima agosto com desgosto. Primeiro veio a notícia da demissão de Daniela Lima, que há dois anos atuava na GloboNews. O fato me transportou duas décadas no tempo, quando vivi o mesmo choque ao ser inesperadamente demitida da emissora onde trabalhava.
Assim como Daniela, eu era âncora de um telejornal diário, ao vivo, de longa duração, que exigia muito preparo e compromisso de seus apresentadores. Também como Daniela, eu era dedicada, comprometida, intensa e opinativa, uma combinação que costuma ser reduzida, especialmente no caso de mulheres, ao adjetivo “controversa”.
Enquanto pesquisava para entender o motivo que havia levado Daniela a ser dispensada de forma tão abrupta, veio a notícia mais triste do dia, a morte do jornalista e locutor Bob Floriano, que se tornou meu amigo exatamente na bancada do telejornal em que éramos âncoras.
Essa combinação de acontecimentos foi se somando a outros fatos intensos do dia de ontem e foi inevitável fazer uma revisão de toda uma vida trabalhando em diferentes veículos de mídia e pensar em um dos maiores problemas da atualidade, a comunicação.
Estamos vivendo uma espécie de Torre de Babel moderna. Assim como na história bíblica, construímos não uma torre, mas a internet, um sistema aberto, democrático, onde todos teriam voz e que uniria a humanidade e distribuiria conhecimento.
Melhoramos nossas tecnologias, desenvolvemos meios acessíveis e móveis e criamos redes sociais. Mas deu errado. Talvez, devido à ambição desmedida e à arrogância característica do ser humano, todo o conteúdo produzido por bilhões foi contaminado por mentiras e fake news intencionais e essa massa de dados passou a ser controlada por algoritmos, deuses pagãos da tecnologia moderna que nem ao menos compreendemos, mas que determinam em boa parte os rumos da sociedade.
Assim como Babel, o resultado foi a confusão generalizada que estamos vivendo, onde todos nós podemos publicar para o mundo nossas opiniões, com ou sem fundamento, formadas igualmente a partir de verdades e de mentiras que nem sabemos diferenciar.
Vivemos em uma sociedade polarizada, dividida entre extremos que criou absurdos inimagináveis como “as verdades alternativas”. Cada um inventa um mundo em sua cabeça a partir das loucuras que vê nas redes, e passa a acreditar nele, seja real ou fictício. É a era do “Penso, logo, é isso.”
Mas a verdade existe. E fatos, bons ou ruins, alegres ou tristes, são reais. E independentemente do que a gente quer, sente ou pensa, a realidade acontece. A Daniela foi demitida por um motivo real. E meu amigo Bob Floriano não está mais aqui. Que descanse em paz.
















Deixe um comentário