É na educação infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental que as crianças começam a construir o vocabulário e os valores que irão sustentar todas as aprendizagens futuras. No campo da educação midiática, isso significa desenvolver desde cedo a capacidade de observar, perguntar, inferir e imaginar. Significa também cultivar atitudes investigativas, respeito à diversidade e cuidado com os outros e consigo mesmo nos ambientes de informação e comunicação.
Ao contrário do que se pensa, educação midiática para os pequenos não exige o uso precoce de redes sociais ou tecnologias complexas. Pelo contrário: trata-se de usar os meios e linguagens já presentes em seu cotidiano —imagens de livros, vídeos, rótulos de alimentos, propagandas na TV— como pontos de partida para perguntas que instigam e abrem espaço para a reflexão. Quem fez isso? Para quem foi feito? Como você sabe? O que essa informação “quer” que você sinta? Por quê?
Especialistas como Faith Rogow explicam que o trabalho na infância se dá na interseção entre linguagem, ética e cidadania. É neste momento que introduzimos, de forma lúdica e concreta, conceitos como autoria, intenção, técnica e evidência —e mostramos que toda mensagem, seja ela verbal, visual ou audiovisual, carrega escolhas.
Ao perguntar “de onde vem essa informação?” ou “o que vejo que me faz pensar assim?”, as crianças começam a distinguir opinião de evidência, representação de realidade. E se preparam, ainda que não se perceba, para mais tarde poderem avaliar fontes, identificar manipulações e participar criticamente do debate público.
A alfabetização midiática na infância também contribui para o letramento antirracista e para a construção da cidadania digital. Desde cedo, podemos convidar as crianças a observar quem aparece —ou não— nos jogos, livros e embalagens que estão no seu cotidiano, como são representados, e o que isso nos diz sobre o mundo em que vivemos. O mesmo vale para questões de publicidade: identificar quando algo é feito para vender, observar as estratégias de convencimento e refletir sobre a escolha de certas imagens ou palavras é parte essencial do processo formativo.
Finalmente, é também na infância que começamos a construir as noções de cuidado —consigo, com o outro e com a coletividade. A escola é por excelência o lugar onde podemos pensar o que significa fazer parte de uma comunidade, o que mais tarde deixará as crianças preparadas para pensar e refletir eticamente sobre que normas e valores devem guiar a nossa atuação nas mídias, e até reconhecer quando as tecnologias são projetadas de formas que podem violar esses valores.
O currículo brasileiro, pela BNCC, já reconhece essas competências como parte das habilidades gerais. Mas muitas vezes falta clareza sobre por onde começar. As experiências de escolas que já adotam essas práticas mostram que, antes de ensinar a checar fatos ou perceber a ação dos algoritmos, precisamos cultivar o olhar atento, o vocabulário comum e a disposição ética para escutar e dialogar.
O que está em jogo, afinal, não é apenas o domínio técnico ou a proteção contra riscos. É a possibilidade de que crianças cresçam capazes de exercer, com autonomia e responsabilidade, seu direito à comunicação e à participação em um mundo cada vez mais digitalizado.
















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