Em um cenário de mudanças nas relações de trabalho, as empresas juniores podem ser a porta de entrada para estudantes universitários no empreendedorismo. Nelas os estudantes não apenas aprendem a gerir negócios, mas descobrem que podem ser donos deles.
É o caso de Renan Nishimoto, 28, presidente e cofundador da Minehr, startup que atua na área de dados para recursos humanos. Engenheiro civil formado pela Unesp (Universidade Estadual Paulista), ele presidiu em 2018 o Movimento Brasil Júnior (MEJ), que hoje conta com 26 mil estudantes de 271 instituições de ensino em 1.470 empresas universitárias, geridas pelos alunos e sem fins lucrativos.
Para Nishimoto, ter feito parte de uma empresa júnior ampliou seus horizontes profissionais. A sua primeira experiência foi com a Pro Junior, de alunos da Unesp de Bauru e do MEJ.
“Meus dois sócios vieram desse movimento, assim como meus primeiros clientes e até mesmo meus primeiros investidores-anjo”, diz.
“Se eu não tivesse vivido essa experiência, não teria criado essa rede de contatos essencial para dar o pontapé inicial na minha empresa.” Criada em 2020, a Minehr já atende grandes empresas, como Stone, Cogna, OLX e Vivo.
“Visitei algumas empresas juniores europeias e vi como elas utilizavam o ecossistema universitário para desenvolver soluções inovadoras”, diz. Ele representou o Brasil no Fórum Global de Empresas Juniores em 2019.
Três em cada dez jovens brasileiros de 18 a 27 anos têm como principal objetivo profissional abrir o próprio negócio ou empresa. Os dados são de uma pesquisa realizada em dezembro de 2024 pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo). A pesquisa ouviu 1.034 jovens de todas as regiões do país.
O estudo revela que o interesse pelo empreendedorismo varia conforme o nível de escolaridade: quanto maior a formação, maior a vontade de ter uma empresa. Além disso, jovens pretos (31%) e pardos (32%) são os que mais demonstram desejo de empreender.
“As empresas juniores prestam serviços e realizam projetos reais para clientes reais, proporcionando uma experiência prática e imersiva aos universitários”, diz Caio Leal, 23, estudante de ciência política na UnB (Universidade de Brasília) e presidente executivo da Brasil Júnior.
“Essa vivência diminui a lacuna entre a formação teórica e a aplicação prática, um problema comum no ensino superior.”
A Brasil Júnior dá suporte desde a concepção da empresa até sua formalização jurídica, incluindo planejamento estratégico, definição de diretorias e obtenção do CNPJ. Em 2024, a organização faturou R$ 8 milhões, com soluções desenvolvidas por empresas universitárias para diversos setores.
“O fato de um aluno precisar estruturar uma empresa dentro da universidade, buscar recursos, gerenciar membros e tomar decisões estratégicas proporciona um nível de autonomia que dificilmente seria alcançado em um estágio tradicional”, afirma Leal.
Philipe Ropke, 20, presidente da FEA Júnior, destaca que fazer parte de uma empresa júnior vai muito além de construir um currículo. Segundo ele, trata-se de uma oportunidade de contribuir com negócios de diferentes portes e, ao mesmo tempo, criar amizades e conexões ao longo do caminho.
O presidente da entidade, ligada à FEA-USP (Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária) da USP, afirma que participar de uma empresa júnior pode transformar como o estudante enxerga a carreira. Ela explica que, além de permitir vivenciar diferentes áreas de uma empresa em um curto período —como recursos humanos, marketing e operações—, a experiência ajuda o aluno a descobrir com o que realmente gosta ou não de trabalhar.
“Falando pela nossa própria experiência, eu e meus diretores —com idades entre 19 e 21 anos— temos hoje a responsabilidade de liderar uma organização com mais de 70 pessoas, que fatura mais de R$ 3 milhões por ano e executa mais de cem projetos anualmente”, diz. “Isso tudo com, muitas vezes, apenas um ou dois anos de vivência empresarial.”
Ele explica que a FEA Júnior USP apoia empresas de todos os portes e segmentos —desde empreendedores que buscam abrir o seu primeiro CNPJ até grandes organizações como Nubank, Red Bull e Itaú.
“Desde 2023, a empresa já investiu mais de R$ 200 mil em ações voltadas para diversidade e inclusão”, afirmou. Uma das iniciativas é o programa de bolsa-auxílio, feito para garantir a diversidade e a inclusão de alunos em situação de vulnerabilidade socioeconômica. A empresa aceita alunos de todos os institutos da Universidade de São Paulo.
Além disso, a empresa conta com coletivos dedicados a grupos minoritários, como o Black (racial), o Pride (LGBTQIA+) e o Girls (gênero). Esses grupos organizam eventos, rodas de conversa e palestras —tanto internas quanto em parceria com empresas— para fomentar o debate e a conscientização sobre inclusão.
Phelipe, que é estudante de administração, diz que muitos ex-membros costumam abrir empresas próprias após a experiência, enquanto outros vão trabalhar com consultoria, para continuar a ajudar os empreendedores.
“Dessa forma, é possível compreender qual caminho profissional faz mais sentido antes de ingressar no mercado de trabalho“.
Para Eugênio José Silva Bitti, professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto (Fearp-USP), atuar nesse tipo de organização permite não apenas aplicar conhecimentos técnicos da área de formação, mas também desenvolver as chamadas soft skills —como empatia, trabalho em equipe e capacidade de liderança.
Ele também defende a criação de disciplinas que articulem melhor o conteúdo dos cursos com os desafios enfrentados nesses projetos. Reconhece, por outro lado, que pode haver o risco de uma visão excessivamente orientada pelo mercado, mas pondera: “Na prática, o que se observa é uma oportunidade concreta para o estudante descobrir seu perfil, testar suas habilidades e identificar onde pode fazer diferença”.
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