Se há alguns anos os professores temiam que os alunos copiassem trabalhos inteiros de sites ou consultassem a Wikipédia como fonte de conhecimento, hoje são as ferramentas de inteligência artificial que têm causado debate sobre autoria e senso crítico nos processos de ensino-aprendizagem. Não à toa: somente no ensino médio, sete em cada dez estudantes brasileiros já usam IA generativa para realizar pesquisas escolares.
O dado está na 15ª edição da TIC Educação, pesquisa do Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br). De acordo com o levantamento, divulgado na semana passada, somente 32% desses adolescentes afirmam ter recebido algum tipo de orientação em sala de aula sobre o uso dessas plataformas.
A TIC Educação também mostra que 54% dos docentes da educação básica afirmam ter participado de alguma formação acerca das tecnologias digitais no último ano. Desse universo, 59% participaram de alguma formação sobre o uso de IA em atividades educacionais no último ano. Ainda que não se saiba a profundidade dessas formações, muitos estudos do campo da educação apontam que a maior parte das ofertas de cursos para professores em tecnologias digitais têm uma perspectiva meramente instrumental.
Outros dados da pesquisa TIC Educação demonstram isso: a maioria dos docentes que tiveram formação continuada em tecnologias afirma ter aprendido sobre recursos para otimizar o planejamento docente e não sobre como tematizar as mídias e tecnologias digitais no âmbito das práticas pedagógicas, perspectiva que ocupa a quarta e quinta posições de um ranking sobre formação continuada nessa temática. Estas se referem às formas de orientar os alunos sobre o uso seguro do computador, do celular e da internet (69%), e à educação midiática e ao uso crítico das mídias em sala de aula (68%).
Enquanto a prioridade desse tipo de iniciativa for a compreensão da funcionalidade de um recurso, as práticas pedagógicas serão ambientes de mera absorção de ferramentas tecnológicas e não de sua problematização. Isso envolve não apenas o incentivo ao uso delas, mas principalmente a reflexão crítica sobre o avanço digital e suas implicações às práticas sociais.
É fato que as tecnologias se desenvolvem em uma velocidade absolutamente distinta do tempo da escola e das políticas públicas, que exigem períodos de diagnóstico, implementação e acompanhamento. Por outro lado, tememos as tecnologias ou as adotamos, nas práticas pedagógicas não apenas de forma instrumental, mas também com um entusiasmo acrítico.
No que se refere especificamente à adoção de IA generativa por estudantes, é preciso, mais do que se assustar com seu uso, refletir sobre como fomentar métodos de ensino que fortaleçam a habilidade de pesquisar informações. O estudante precisa aprender a valorizar não a facilidade em encontrar informações a um simples comando, mas sobretudo a árdua tarefa de refletir criticamente sobre uma informação gerada por IA, verificando sua confiabilidade e veracidade.
Assim como a Wikipédia pode ser usada para buscar informações, já que é uma plataforma construída de forma colaborativa por milhares de pessoas, as IAs generativas podem sim contribuir para o desenvolvimento de habilidades e competências indispensáveis para o mundo digital em que vivemos. Mas, para isso, é fundamental que as práticas pedagógicas orientem os estudantes para além do uso prático de uma ferramenta, propiciando a eles a análise, o questionamento e a intervenção na mensagem gerada, processo a partir do qual desmistificará a IA, compreendendo suas limitações e vieses
















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