Jane Goodall, que morreu na última quarta-feira (1º), aos 91 anos, seguiu vários princípios que geriatras recomendam para uma vida longa e saudável.
Cientista, conservacionista e autora, Goodall permaneceu ativa, trabalhando até o dia de sua morte. Ela tinha um claro senso de propósito para sua vida e era uma otimista.
Durante uma carreira de quase sete décadas, Goodall nos ensinou sobre a inteligência dos chimpanzés. Mas ela também deixou poderosos ensinamentos sobre o envelhecimento —e sobre viver bem.
Seu trabalho a manteve ativa. De acordo com o Instituto Jane Goodall, a cientista viajava aproximadamente 300 dias por ano, difundindo sua “mensagem de esperança através da ação”. Embora abdicar da aposentadoria não seja algo para todos, Ken Stern, autor de “Healthy to 100”, um livro que examina a longevidade ao redor do mundo, disse que pessoas que trabalham por mais tempo geralmente vivem mais.
“Tendemos a associar trabalho com estresse, o que é ruim”, disse Stern. “Mas, na verdade, trabalhar numa idade avançada é claramente benéfico do ponto de vista da longevidade saudável.”
Pesquisas mostram que pessoas que se aposentam no início dos 60 anos têm um risco maior de morte nos anos seguintes do que aquelas que param de trabalhar mais tarde, independentemente de sua saúde antes da aposentadoria. As pessoas também tendem a experimentar declínio cognitivo acelerado após se aposentarem, bem como taxas mais altas de depressão.
Alguns dos benefícios de uma aposentadoria tardia provavelmente derivam do fato de que o trabalho mantém você fisicamente ativo e engajado com o mundo. A agenda de viagens de Goodall significava que ela estava se movimentando e “saindo de casa”, disse Stern.
O trabalho de Goodall pode ter oferecido outras vantagens para a saúde, diz a neuropatologista Margaret Flanagan. Ela passou muito tempo na natureza, o que tem sido associado a níveis mais baixos de cortisol, pressão arterial mais baixa e menos inflamação.
Os aspectos socialmente e cognitivamente estimulantes de seu trabalho mais recente —escrever livros e falar para grandes audiências— provavelmente também a beneficiaram.
As interações sociais são especialmente importantes à medida que envelhecemos porque nos forçam a exercitar habilidades que muitas vezes tomamos como garantidas, diz Stephanie Collier, diretora de educação na divisão de psiquiatria geriátrica do Hospital McLean em Massachusetts. Isso inclui manter uma conversa, usar certo vocabulário e considerar diferentes visões de mundo. Estar perto de outras pessoas também pode ajudar a reduzir o estresse e a ansiedade, acrescentou Collier.
Jane Goodall tinha um propósito
O trabalho de Goodall claramente lhe deu um forte senso de significado ou propósito, o que tem sido associado a uma vida mais longa. Um estudo publicado em 2019 descobriu que, de quase 7.000 adultos com mais de 50 anos, aqueles que pontuaram mais alto em respostas sobre propósito de vida tinham menos da metade do risco de morrer nos quatro anos seguintes na comparação com aqueles que pontuaram mais baixo.
“Sentir que você tem algo a fazer, alguma razão de ser, é poderoso”, diz Alison Moore, diretora do Instituto Stein para Pesquisa sobre Envelhecimento e do Centro para Envelhecimento Saudável da Universidade da Califórnia em San Diego. “Jane Goodall certamente tinha isso.”
Esse senso de propósito pode dar às pessoas uma razão para cuidar melhor de sua saúde física, acrescentou Moore. “Elas querem se manter em boa forma para continuar a poder perseguir as coisas que importam para elas.”
Se o trabalho não proporciona um sentimento de significado, ele pode vir da espiritualidade, de relacionamentos ou de um novo hobby, disse Collier. Seja qual for a inspiração, ter propósito na vida dá às pessoas motivação “para continuar aprendendo, para continuar interagindo e para continuar levantando da cama”, disse ela —elementos que podem ficar de lado na velhice.
Goodall manteve uma perspectiva positiva sobre a vida
Jane Goodall era uma otimista. Em seu último livro, publicado em 2021, “O Livro da Esperança: Um Guia de Sobrevivência para Tempos Difíceis”, ela expôs o que lhe dava esperança mesmo diante das mudanças climáticas e outros sérios desafios globais.
Pesquisas mostraram que otimistas vivem mais.
Por exemplo, em um estudo contínuo de décadas sobre envelhecimento e demência em um grupo de freiras católicas, aquelas que expressaram mais emoções positivas em escritos do início da vida viveram, em média, de sete a dez anos mais do que aquelas cujos escritos eram os menos positivos. A associação permaneceu após ajustes para educação e habilidade linguística, sugerindo que o otimismo “pode ajudar a amortecer o estresse e promover resiliência”, disse Flanagan, que agora lidera o estudo.
Mesmo quando se tratava da morte, Goodall mantinha uma atitude positiva. Em uma entrevista de 2021 ao The New York Times, foi perguntado sobre sua “próxima grande aventura”. Sua resposta? Morrer.
“Quando você morre, ou não há nada, caso em que estou acabada, ou há algo”, disse ela. “Eu penso que há algo, a partir de várias experiências que tive. E se for assim, então não consigo pensar em uma aventura maior do que descobrir o que está lá. O que vem a seguir?”
Este texto foi publicado originalmente no The New York Times.
















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