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Que Brasil queremos formar? – 05/08/2025 – Marcelo Viana

Em setembro visitarei diversas universidades na China, para participar em eventos científicos e proferir palestras, mas também com a ambição de contribuir para fortalecer as relações entre os dois países no âmbito científico, particularmente em matemática. A China está se posicionando como grande potência científica e tecnológica do futuro próximo e temos muito a aprender com eles e tudo a ganhar com uma aproximação efetiva do que está acontecendo por lá.

Os grandes problemas (e oportunidades) dos nossos dias –transição energética, inteligência artificial, saúde pública e pandemias, preservação ambiental, medicina de precisão e tantos outros– exigem cada vez mais profissionais altamente capacitados em matemática e suas tecnologias, plenamente equipados para a resolução de problemas concretos com base em evidências e dados.

A China sabe disso e vem fazendo a coisa certa: cerca da metade (!) dos seus formandos universitários estão nas áreas STEM –acrônimo em inglês que engloba ciência, tecnologia, engenharia e matemática. Os Estados Unidos, mesmo antes das atitudes absurdas do governo Trump, já estavam ficando para trás, com apenas 33% de formação nessas áreas.

Bem pior está o Brasil, onde o percentual de formações em STEM é de apenas 13% e, pior ainda, não apresenta sinais de evolução positiva. Pelo contrário, na contramão de tudo, as matrículas nas pós-graduações em ciências e engenharias vêm diminuindo de modo preocupante: queda de 12% em ciências exatas e 28% em engenharia entre 2015 e 2022.

Ao mesmo tempo, a universidade brasileira perpetua práticas e políticas de formação que parecem ignorar as necessidades do país. Um dado basta para ilustrar esse alheamento: entre as mais de 40 mil graduações diferentes oferecidas pelo nosso ensino superior, apenas 4 (nenhuma de STEM) concentram mais de 25% do total das matrículas, sendo que as suas taxas de empregabilidade rondam os pífios 10%. Em outras palavras, 9 em cada 10 diplomados nas graduações mais populares não encontram colocação profissional na sua área de formação!

Em evento realizado anos atrás no Impa (Instituto de Matemática Pura e Aplicada) o cineasta e jornalista João Moreira Salles contou do seu espanto ao verificar que a turma de cinema que ministrava na PUC-Rio estava lotada, enquanto o departamento de matemática da universidade tinha apenas um estudante. “Um país que não tem indústria cinematográfica, mas forma 20 cineastas por cada matemático, caminha rumo à catástrofe”, resumiu, acrescentando com humor: “A qual será muito bem filmada, mas nem por isso deixará de ser uma catástrofe”.

Agora, o que está acontecendo na China e, em menor proporção, na Índia está longe de ser fruto do acaso. É o resultado de política de Estado consistentemente aplicada ao longo dos anos, baseada na definição de prioridades estratégicas e metas claras e na valorização dos profissionais e professores das áreas de conhecimento que mais contribuem para a tecnologia e a inovação.

O protagonismo nessa definição precisa ser do poder público. Mas a universidade brasileira não pode se eximir da responsabilidade: a nossa missão maior –a nossa razão de existir!– é formar o Brasil do futuro. E o assunto é urgente.


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