O tema da redação do Enem é uma das maiores preocupações dos estudantes que se preparam para o exame. Tradicionalmente, a prova privilegia assuntos sociais, ligados à cidadania, inclusão e direitos humanos. Diante das muitas possibilidades, candidatos treinam textos sobre temas variados. Mas, nesta reta final, o que priorizar?
Para ajudar nessa preparação, a Folha ouviu professores diversos colégios e cursinhos sobre suas apostas e separou os temas em oito eixos, que serão detalhados nas próximas semanas. Para 2025, duas temáticas estão à frente: meio ambiente e justiça climática; e tecnologia, inteligência artificial e ética digital.
Segundo Sousa Nunes, professor do Colégio Farias Brito, a redação do Enem funciona como um termômetro social. “Ano após ano, ela revela os dilemas mais urgentes do Brasil e exige que o estudante não apenas escreva bem, mas pense criticamente o país e proponha soluções responsáveis”, afirma.
O eixo ambiental não é novidade na prova. Em 27 anos, o Enem já abordou temas como preservação da floresta, consumo sustentável e gestão de recursos hídricos. A diferença agora é o contexto.
O Brasil vive um dos momentos mais críticos em décadas, o que reforça a aposta de que o tema volte à prova. Segundo o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), 2024 teve o pior período de queimadas na Amazônia desde 2010, com 278,2 mil focos de incêndio.
Professores também citam a realização da COP30 (Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas), marcada para novembro de 2025, em Belém (PA). Será a primeira vez que o evento ocorre no Brasil e na Amazônia Legal, o que deve colocar o país no centro do debate climático internacional.
Segundo Sidinéia Azevedo, professora de português e redação do Colégio Bernoulli, a questão social deve aparecer de forma integrada. O conceito de racismo ambiental —segundo o qual populações vulneráveis são as mais afetadas por desastres e degradação— é visto como uma abordagem que combina sustentabilidade e justiça social. “Faz sentido trazer o tema desse ponto de vista porque as maiores vítimas dos impactos são grupos em situação de vulnerabilidade”, diz
A segunda aposta é o eixo tecnologia e inteligência artificial, que ganhou força com a popularização das ferramentas de IA generativa. Para os educadores, trata-se de um dos debates mais urgentes da atualidade, com implicações éticas, sociais e educacionais.
“Pode-se dizer que este tema é um ‘hit’ do momento. A popularização da IA tem gerado debates intensos, principalmente sobre desemprego, qualificação profissional e ética no uso da tecnologia”, afirma André Barbosa, professor de redação do Colégio Oficina do Estudante
O exame pode explorar as dualidades da IA, como o avanço científico e médico versus dilemas éticos, precarização do trabalho, disseminação de desinformação e necessidade de requalificação profissional.
“A prova pode exigir que o aluno discuta o papel do Estado, das escolas e das empresas na condução dessa transição inevitável. Como consequência direta, a educação precisará se reinventar”, diz Rafael Galvão, diretor pedagógico da Rede Alfa CEM Bilíngue.
A discussão também envolve a inclusão digital. O acesso desigual a dispositivos e à internet ainda exclui milhões de brasileiros, sobretudo idosos e pessoas de baixa renda.
Nas próximas semanas, a Folha publicará reportagens sobre as principais apostas para o tema da redação do Enem. Além de meio ambiente e inteligência artificial, cada semana trará dois novos eixos indicados por professores ouvidos pelo jornal.
Os temas serão detalhados com dicas de educadores sobre o motivo da escolha, como se preparar, possíveis abordagens e erros a evitar durante o estudo e a realização da redação.
A PRÁTICA LEVA À PERFEIÇÃO
O preparo para a redação não se resume a “adivinhar” o tema, mas a estar pronto para qualquer eixo temático. Mais do que decorar fórmulas, o candidato precisa desenvolver repertório cultural atualizado, capacidade de argumentação e sensibilidade social. Por isso, a prática constante é indispensável.
Os professores defendem que o estudante equilibre estrutura e conteúdo para alcançar boas notas. Azevedo usa a metáfora do bolo. “A estrutura é a massa, e o repertório é o recheio. O aluno precisa dominar os dois.”
O repertório, segundo ela, deve vir do que o aluno aprendeu ao longo da educação básica, em diferentes disciplinas, e não apenas de temas da moda. “O estudante não deve ‘gourmetizar’ o estudo, escolhendo só o que acredita que vai cair. O Inep sempre surpreende.”
Planejar o texto antes de escrever também faz diferença. Esboçar um pequeno projeto —com tese, dois parágrafos de desenvolvimento e uma proposta de intervenção completa— ajuda a evitar furos e garante clareza na exposição das ideias.
Os avaliadores do Enem julgarão o desempenho na redação de acordo com os seguintes critérios:
- Competência 1: Domínio da norma culta escrita.
- Competência 2: Compreensão e desenvolvimento do tema.
- Competência 3: Organização e defesa de argumentos.
- Competência 4: Coesão e coerência na argumentação.
- Competência 5: Proposta respeitando direitos humanos.
A prática semanal de escrita é considerada o melhor treino. Escrever um texto por semana, revisar e comparar produções anteriores permite desenvolver ritmo, vocabulário e precisão. O objetivo não é alcançar a nota máxima, mas elaborar uma redação coerente, coesa e bem fundamentada, dentro das cinco competências exigidas pelo exame. Em vez de buscar fórmulas ou citações prontas, vale apostar na reflexão própria.
A Folha oferece assinatura gratuita para estudantes que se inscreverem no Enem; clique aqui para saber mais.
















Deixe um comentário