Existe um vestibular que pode ser chamado de o mais difícil do Brasil? Para muitos estudantes, essa coroa pertence ao ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica). O exame, conhecido pelo grau de exigência próximo ao de olimpíadas científicas, realiza neste domingo (5) a primeira de suas três fases, em 25 cidades do país.
O vestibular reúne alunos que foram destaque em suas escolas, mas que, ao encarar a preparação, descobrem precisar “engolir o ego” diante da dificuldade. Muitos viajam ou se mudam de cidade para cursinhos especializados. A rotina pode chegar a 15 horas de estudo por dia só para enfrentar a prova.
Na estreia, os candidatos enfrentam uma prova objetiva com 48 questões de matemática, física, química e inglês, resolvidas em até cinco horas. Quem avança encara depois quatro dias de exames discursivos, incluindo português e redação. A etapa final envolve inspeção médica e avaliação psicológica feitas por equipes da Aeronáutica.
Essa fama de difícil se explica pelo nível das questões. Apesar de o conteúdo se restringir às disciplinas de exatas, naturezas e português, ele é cobrado em uma profundidade incomum, com matérias que só aparecem em olimpíadas ou no início da graduação.
Segundo Henrique Bessa, supervisor das turmas ITA/IME do colégio Farias Brito, em Fortaleza, a maioria dos alunos não passa na primeira tentativa, e a aprovação costuma vir após dois, três ou até quatro anos de preparação intensa.
Até o ano retrasado, a reprovação nos exames de saúde eliminava o estudante. Desde 2023, porém, é possível pedir dispensa e seguir o curso como civil, com aval do Comando da Aeronáutica.
Todos os calouros ingressam como militares e passam pelo CPOR (Curso Preparatório de Oficiais da Reserva) no primeiro ano. A decisão sobre seguir carreira militar ocorre apenas no segundo.
O ITA, situado em São José dos Campos (SP), oferece seis graduações de engenharia: aeroespacial, aeronáutica, eletrônica, mecânica-aeronáutica, civil-aeronáutica e computação.
O próximo vestibular marcará a estreia da instituição fora do interior paulista. Serão oferecidas vagas para o novo campus de Fortaleza, previsto para ser inaugurado no primeiro semestre de 2026. A unidade receberá turmas hoje alocadas em São José dos Campos e ampliará a oferta acadêmica com dois cursos inéditos —engenharia de sistemas e engenharia de energias renováveis— além dos seis já tradicionais.
Segundo a instituição, cerca de 75% dos formados seguem para a iniciativa privada, em áreas como bancos, consultorias, tecnologia e indústria aeroespacial. A empregabilidade é próxima de 100% e os salários iniciais estão entre os mais altos do país.
Para dar uma mostra da dificuldade do vestibular, Bessa selecionou algumas das questões clássicas de temas frequentes. Confira a seguir.
Motivo da escolha: A Geometria Analítica aparece com frequência no vestibular do ITA por ser a ligação entre álgebra e geometria, essencial para a formação em engenharia. Questões sobre retas e cônicas, como elipse, parábola e hipérbole, avaliam a capacidade do candidato de modelar problemas espaciais complexos. Esse domínio é importante em áreas como a Aeronáutica, que exigem descrição precisa de trajetórias e superfícies.
Motivo da escolha: A Física Moderna, que envolve temas como Relatividade e Mecânica Quântica, ganhou espaço nos últimos anos de prova. O conteúdo aborda efeito fotoelétrico, estrutura atômica e comportamento da matéria em escala microscópica. Para Bessa, o assunto é cada vez mais relevante para engenharias de ponta, como aeronáutica, eletrônica e nuclear, e deve aparecer tanto na primeira quanto na segunda fase do vestibular.
Motivo da escolha: As reações orgânicas são cobradas de forma ininterrupta desde 2008 e compõem uma das bases do exame. O conteúdo sustenta o estudo de combustíveis, polímeros, fármacos e materiais usados em setores como aeroespacial, petróleo e química. Segundo Bessa, o domínio dessas transformações demonstra a capacidade de aplicar a química em soluções tecnológicas complexas, uma habilidade valorizada pelo ITA.
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